sexta-feira, 15 de junho de 2007

Boletim 8: Venezuela



Boletim 7: Venezuela



Caracas, 09 de abril de 2007
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Era meu último dia na Colômbia, uma manhã cinza com uma pequena garoa em Bogotá. Partiria agora ao último país da viagem, a inexplorada Venezuela.Na rodoviária de Bogotá passei por uma revista antes de entrar e fui ao guichê das empresas de ônibus fazer a já tradicional barganha e conseguir uma passagem por quase metade do preço (vide trambicagens do transporte rodoviário colombiano no boletim 7). Não seria uma viagem fácil e tampouco direta, já que a cidade de Mérida, na Venezuela, estava muito longe e eu teria que trocar de ônibus algumas vezes.
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O primeiro trajeto seria de Bogotá até Cúcuta, a última cidade colombiana já na fronteira. Era mais uma noite que passaria no ônibus, que ao menos tinha banheiro e poltronas reclináveis, por isso, já estava ficando mal acostumado com o razoável luxo dos coletivos colombianos, enquanto lembrava dos ônibus escolares e das vans de cachorro-quente centro-americanas. Só existe uma coisa pior que o frio congelante nos trajetos de ônibus pelos andes colombianos: é o fato de que nas poucas vezes que o ônibus pára pra gente poder comer, é sempre num restaurante / lanchonete podre com tortas fritas totalmente banhada em óleo de dias, ou pães inchados e sem recheio, completamente secos, o que me obrigava a ficar a base de guloseimas e salgadinhos. Ah, saudade de um mistinho feito na hora, um pão de queijo do mesmo dia e um sucão de laranja pra reanimar, mas só na vontade.
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Na manhã do dia seguinte o busão chegou em Cúcuta e pra minha surpresa não parou na rodoviária, mas sim no estacionamento do próprio escritório da empresa. Todos desceram porque me parece que a localização da empresa era melhor e mais central do que a rodoviária, mas como eu não ia ficar em Cúcuta e precisava atravessar a fronteira, tinha que ir pra rodoviária. Perguntei ao motorista do busão se realmente não passaria por lá e ele me respondeu que teria que transferir o busão pra outra garagem da empresa e que me daria uma carona. Ele estava com pressa e vínhamos falando pelo corredor da empresa que terminava numa porta de vidro. Com passos rápidos e a cabeça virada pra falar comigo, quando chegou no fim do corredor ele deu de cara na porta de vidro. A porta não quebrou, mas a cabeça dele sim, e eu fiquei numa situação de querer ajudá-lo, mas ao mesmo tempo rachando o bico por dentro. Por sorte o cabeção dele resistiu e só deu um galo.
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Chegando no que eles chamam de rodoviária, mas que pros nossos conceitos seria um mercado de artigos variadíssimos de onde, por acaso, partem e chegam ônibus, carros velhos com placas de táxi escritas à mão e outros tipos de veículos rodantes. Em meio a este inferno, há barracas que vendem de tudo, desde espetinhos mergulhados no óleo até clássicas edições da revista playboy (tinha uma da Xuxa exposta como troféu, devia ser a mais cara da banca, relíquia dos anos 80!), sem falar nos cambistas binacionais totalmente garantidos com crédito imediato e taxistas informais tentando te enfiar nos seus carros pra atravessar a fronteira (suspeito ou não?)
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Bolívar
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Foi neste ambiente aconchegante e confiável que troquei meus últimos pesos colombianos por bolívares venezuelanos, e montei num busão branco e verde limão que estava por desabar de tão enferrujado. O valente alvi-verde me levou até a fronteira e me largou no escritório de migração colombiana pra eu poder carimbar minha saída do país. Depois entrei na Venezuela pela maneira mais fácil: a pé, simplesmente atravessando a ponte que divide os territórios. Fui então carimbar a entrada e procurar algum outro objeto rodante pra me levar até Mérida, que estava muito longe ainda! Achei uma van até uma cidade chamada San Cristóbal, no caminho pra Mérida, já que não havia transporte direto. Assim, fui até essa tal cidade, mas chegando lá desisti de buscar o próximo transporte pra Mérida porque eu já estava batendo 30 horas de rodagem desde Bogotá.
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Venezuela
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San Cristóbal seria meu oásis de descanso temporário se não fosse uma das cidades mais sujas e confusas que já vi, o jeito seria comer e dormir pra que a manhã seguinte chegasse depressa e eu pudesse sair de lá. Porém, antes fui até um cyber pra fazer contato com o mundo e, enquanto eu estava lá dentro, o tempo fechou e a cidade escureceu às 3 da tarde, quando começou a cair um temporal. O cyber ficava numa descida e a roda do carro estacionado em frente à porta começou a fazer com que toda a enxurrada de água se desviasse pra calçada e viesse justamente na direção da porta do cyber, que mesmo fechada, tinha uma fresta grande por baixo. Os primeiros fiozinhos de água começaram a escorrer por debaixo da porta, 5 minutos depois virou uma cachoeira e o cyber começou a inundar. Daí era um tal de nego tentando conter o fluxo da água com pano, nego recolhendo do chão os estabilizadores e fios dos computadores, aquilo ia virar um aquário de computadores em mais alguns minutos e ninguém saía de lá porque a chuva na rua estava detonando tudo e a enxurrada que descia pela calçada jorrava sem parar.A situação dentro do cyber estava complicando porque os paninhos na fresta da porta não estavam segurando a força da água, meu tênis já estava submerso, daí começamos um mutirão pra tentar evitar algo pior, pois eu não poderia ter chegado até aqui depois de tudo e acabar me afogando num cyber venezuelano!De rodo na mão eu estava tentando afastar a água dos micros e o resto do pessoal recolhendo os fios, foi quando alguém teve a sábia idéia de desligar a chave geral antes de ocorrer um curto. A sorte foi que a chuva não demorou muito pra passar, o dia clareou de novo e eu saí daquele lugar o mais rápido possível.
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Vista de Mérida
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No dia seguinte, finalmente pude pegar um ônibus que me levaria a Mérida. Depois de algumas horas cheguei na cidade, que fica num vale, ainda numa altitude não muito elevada dos Andes venezuelanos. É uma cidade com ar provinciano e estudantil, já que ali está uma das principais universidades do país, o que atrai gente de outros estados. Na praça central, uma grande estátua de Bolívar guarda a cidade, aliás, na praça principal de qualquer cidade venezuelana você vai se deparar com uma estátua dele, que também dará nome a própria praça e a várias outras coisas nas cidades, inclusive à moeda do país. Reconhecidamente, Bolívar teve grande importância histórica na luta pela independência na América espanhola, libertando 6 países, dentre eles o seu próprio país natal, que é este de onde vos escrevo. Porém, apesar de tanta glória, Chávez leva ao extremo a idolatria ao antigo líder, tendo até mudado o nome do país para República "Bolivariana" de Venezuela. No fim das contas, são tantas coisas nas cidades que têm o nome de Bolívar, que fica difícil localizar-se.
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Catedral de Mérida
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Senhores merideños de categoria!
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Em Mérida existe o maior teleférico do mundo, tanto em distância como em altura. A partir do seu topo chega-se ao pico mais alto do país, que tem um nome muito diferente: Pico Bolívar!!! com mais de 5 mil metros. A saída do teleférico, ainda na cidade, parte de 1.600 metros sobre o nível do mar, e vai subindo, subindo, subindo, até que na última estação se alcança quase 5 mil. Muita gente passa mal lá em cima, mas a vista compensa. Quando peguei o bondinho em Mérida, fazia uns vinte e poucos graus, e chegando lá na última estação, a temperatura estava negativa e o chão com algumas partes cobertas de neve.
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Última estação do teleférico de Mérida
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Pico Espejo - Mérida
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Vista da cordilheira dos Andes - Mérida
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N. Sra. de Las Nieves
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De Mérida fui pra outros pequenos povoados andinos incrustados nas montanhas. Numa velha furgoneta preta do estilo daquela do Esquadrão Classe A (alguém lembra?), que nem tinha porta de passageiros, subi as estradinhas dos Andes até o vilarejo de Jají. A medida que íamos subindo, o vento que entrava no espaço sem a porta ia esfriando até congelar. Jají é um dos lugares mais pacatos que passei, as casas ficam com as portas abertas, e os tiozinhos de chapéu passavam cumprimentando o novo ilustre desconhecido, eu. A vida nestes lugares está à margem da rotina moderna, tudo passa em câmera lenta e conversar com os nativos, conhecer o estilo de vida deles, é uma experiência única. Desci a rua desde a praça central e dois quarteirões depois a cidade terminou num barranco que dá de cara a um enorme vale em meio às cordilheiras. Na volta peguei um micro-ônibus que veio disparando sucessos do Rei Roberto: Amigo, Detalhes, Emoções... hora interpretados pelo próprio, hora por terceiros em espanhol. O motorista cantava junto e a preferida dele era "Amigo", porque ele meteu no repeat umas 4 vezes, tentando decorar a letra. De volta a Mérida, hora do lanche! mandei uma cachapa! quitute típico feito com uma massa à base de milho e várias escolhas de recheio. Na Venezuela, e também na Colômbia, tem um quitute muito tradicional chamado arepa, é uma espécie de pão redondo e achatado feito de milho e com inúmeras opções de recheio, pra quebrar o galho a qualquer hora que bate uma fome. Os dois países brigam pela origem do negócio e o modo de preparar é diferente. Eu comi nos dois países e gostei de ambos.
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Jají
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Jají
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Jají
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Daí então rumei pra Barinas, fazendo toda descida dos Andes pela região chamada de Páramos, de vegetação mais seca e com vários povoados típicos no caminho. Em Barinas, mais uma rodoviária caótica e suja, onde só troquei de ônibus pra poder ir pra Coro. Depois de mais uma noite virada no busão, e várias paradas do exército pra checar documentos, cheguei em Coro em pleno pico da Semana Santa, e não conseguia achar um lugar pra dormir. Até os lugares que alugavam redes pra dormir na varanda lotaram. Rodei muito ainda com o dia amanhecendo já achando que fosse ficar pela sarjeta até que achei uma vaguinha longe do centro histórico.
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Coro
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Coro
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Coro foi a primeira cidade fundada na Venezuela e também foi sua antiga capital. É a única cidade venezuelana declarada patrimônio histórico da humanidade e possui estreitas ruas de pedra, casas coloniais coloridas e igrejas de barro. Coro já está bem perto do litoral e a temperatura contrasta com o frio que fazia nas cidades andinas que eu estava antes. De Coro eu iria pra última cidade da viagem, a capital Caracas. Por causa da confusão da Semana Santa, fui garantir a passagem com um dia de antecedência, mas na rodoviária descobri que na sexta e no sábado as empresas de ônibus simplesmente não iam trabalhar, e as passagens do domingo e segunda já tinham acabado. Eu não tinha como esperar até terça porque tinha vôo de volta ao Brasil saindo de Caracas, e então tive que arquitetar um plano B, vendo com taxistas clandestinos que improvisam uma lotação em carrões velhos. Os motoristas, gordões de regata e bigode fino, começaram a botar o terror dizendo que se eu quisesse garantir teria que fechar o "táxi" pelo preço cheio, ou seja, pagando por 6 pessoas. Eu ocuparia 1/3 do espaço que o motorista inchado ocupa e ainda teria que pagar por 6? negativo!Aí é que entra o plano C: aparecer no pátio da rodoviária no dia seguinte bem cedo e tentar outro esquema. Pra qualquer necessidade que você tenha nestes países, sempre haverá um ambulante / informal / clandestino pra te ajudar com seus serviços providenciais a preços módicos. Assim sendo, havia alguns ônibus clandestinos aproveitando a folga das empresas formais pra descolar um trocado e garantir o ovo das crianças nesta Páscoa. Algumas horas depois eu já estava em Caracas, berço do libertador e linha final das estradas que vinha percorrendo desde a Guatemala.
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Coro
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Coro
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Coro
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A capital da Venezuela não é das cidades mais convidativas, além de ser extremamente insegura e uma das top 10 em violência no mundo. Por outro lado, é sempre na capital que se pode ter uma visão mais ampla do país. Há vários bons museus, como o de Bellas Artes, o de Ciências Naturais e o de Arte Contemporânea.A praça central da cidade, a Plaza Bolívar (que outro nome poderia ter?), ostenta uma enorme estátua dele, e logo ali, a dois quarteirões, está a casa onde ele nasceu. No albergue de Caracas, conheci outros mochileiros caricatos. Um australiano que já morou na Mongólia, um senegalês refugiado tentando ser jogador de basquete na Venezuela, uma belga que tocava aquele orgãozinho pequenininho de sopro que ela carregava na mochila, um cara da Namíbia, entre outras criaturas exóticas.
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Casa onde nasceu Bolívar - Caracas
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Palácio Miraflores (Sede de Governo) - Caracas
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Até antes do descobrimento, a Venezuela era habitada basicamente por dois grandes grupos indígenas: Caraíbas e Arauaques. O nome do país teve origem quando o navegador espanhol Alonso de Ojeda, passando pelo Lago de Maracaibo em 1499, avistou as casas de palafitas dos indígenas às margens, chamando então o lugar de "Pequena Veneza", daí Venezuela. A composição étnica do país divide-se em 69% de mestiços, 20% de brancos, 9% de negros e apenas 2% de índios. A Venezuela sempre teve uma história social e política conturbada, o que não é diferente atualmente. A grande riqueza gerada a partir da exploração do gás e do petróleo nunca beneficiou todas as camadas sociais devido à problemática distribuição de renda. Para se ter uma idéia, 95% das exportações venezuelanas correspondem ao comércio de petróleo, e o país é o segundo maior exportador entre todos os integrantes da OPEP. Pode-se encher um tanque com o equivalente a R$ 3,50, isso mesmo, por três reais e cinquenta centavos você completa!!! e não é sonho!!!Mas esta festa da octanagem não é motivo pra comemoração porque o país é tão dependente e tão concentrado na exploração do petróleo, que as outras atividades da economia ficaram atrofiadas. Há dependência externa para o abastecimento agrícola e também para vários setores industriais.
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Bolívar em muro de Caracas
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Depois de sucessivos governos desastrados e várias crises políticas e econômicas, chega ao poder em 1998, o não menos desastrado Hugo Chávez, esse mulato robusto, asseado e fanfarrão, mas que na hora do vamos ver, abusa da truculência em seu jogo populista e messiânico. Desde que assumiu, conseguiu fazer manobras políticas que lhe concentrassem cada vez mais poder e autonomia. A recente "Lei Habilitante" já permite a ele governar por decreto, sem interferência do legislativo, isso sem contar os recentes atos de estatização e ameaças de expropriação de empresas privadas. Os venezuelanos estão divididos claramente entre chavistas e anti-chavistas, e os choques entre estes grupos são comuns. Mas o fato é que a oposição perde fôlego a cada dia, abafada pelos atos isolados e impositivos do governo, o que leva o país cada vez mais próximo a uma retrógrada ditadura. Mas há algo de excêntrico e interessante nesta quase petro-ditadura: toda vez que há uma decisão política relevante, é organizado um referendum popular que dará a palavra final sobre o tema. Além do mais, periodicamente são feitas consultas deste tipo para que o povo demonstre sua aprovação ou desaprovação ao prosseguimento de Chávez. Agora, se isso é feito de maneira totalmente limpa já não sei.
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Seu slogan de governo: "Rumbo al Socialismo del Siglo XXI" até agora é pura panfletagem, enquanto o país amarga um dos piores índices de desenvolvimento social no continente. Conversei com alguns venezuelanos pró-chávez, que me relacionaram as benfeitorias do governo, mas pode-se ver claramente que são ações assistencialistas e efêmeras que não conseguem reabilitar de maneira sólida e independente as camadas mais pobres da população. Este assistencialismo, e a aceitação dos que ilusoriamente se beneficiam dele, refletem apenas um modelo patriarcal e personalista, do qual tantas vezes fomos vítimas e em alguns casos continuamos sendo em toda América Latina. Também é clara e escandalosa a política de propaganda do governo, de forte cunho personalista à figura do presidente. Nas cidades, há muitos muros, placas e outdoors com frases de efeito junto à sua imagem. Nas estradas então, é impossível ficar alguns minutos sem avistar alguma grande placa anunciando uma obra, e sempre com sua imagem em tamanho gigante sempre em posição de saudação nacionalista e algumas vezes até em situações de populismo escancarado carregando crianças no colo. Uma criança que vinha no ônibus no banco de trás ao meu na viagem de Mérida a Barinas, gritava no colo da mãe cada vez que passava uma placa daquelas: "ÚH, ÁH, CHÁVEZ NO SE VÁ", seu último slogan popular. Pela quantidade de placas nesta viagem de 6 horas, vocês imaginem a quantidade de vezes que isso foi repetido na minha orelha! Nas últimas horas eu já estava até acompanhando no inconsciente, e se a viagem durasse mais 6 horas acho que já estaria militando no socialismo do século XXI.
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Propaganda chavista
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Propaganda chavista
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Com esta situação política delicada em fase de conturbada transição, é melhor esperar pra ver no que vai resultar esse novo modelo antes de emitir qualquer opinião sumária, mas ainda bem que podemos esperar de fora mesmo, porque pelas impressões que tive aqui dentro do país, essa aventura pode ter consequências mais sérias nos próximos anos. E mesmo fora não estamos livres, haja vista o intervencionismo descarado do Chávez na região, inclusive no Brasil, em episódios que foram assistidos passivamente pela diplomacia brasileira. Deixando a política de lado, os venezuelanos chavistas ou não chavistas são sempre simpáticos, gostam de conversar (quando o tema é política então, vai longe...), perguntam sobre o Brasil, gostam de música e adoram acompanhar seus times de baisebol, que é o principal esporte do país. O estilo musical mais representativo do país é a tonada llanera, imortalizada e defendida pelo compositor Simón ..... (desta vez não é Bolívar), é Simón Díaz. As composições são toadas executadas com arranjos típicos de violão, viola, violino, harpa e certas vezes acompanhado de metais, certamente pela influente proximidade ao Caribe. A palavra "llanera" está ligada à região de origem desta música, que são as planícies localizadas no centro e no sul do país, região de "Los Llanos". Notei que existe semelhança entre a música llanera venezuelana e o que no Brasil temos como a música "brejeira" e "pantaneira", advinda do centro-oeste e norte. A diferença está justamente porque a llanera venezuelana encontra-se num ponto de intersecção, que a fez assimilar também a influência caribenha, tornando-a mais rápida no andamento e com arranjos de metal (tradição típica caribenha e pouco usada no Brasil).
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Caracas durante a sexta-feira santa
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A salsa também é muito escutada e também produzida na Venezuela, na sua região costeira do Caribe principalmente. O legendário salsero venezuelano Oscar D´León é o principal defensor da salsa no país.Na música de temática social, tipo trova de protesto, está Alí Primera. Morto em 1985, mas ainda vivo entre os venezuelanos engajados, ou melhor, entre todos os venezuelanos, porque são todos engajados.
No país não há quem diga "ah, não me interesso por política, então por mim tanto faz", e essa consciência é muito positiva, embora o debate esteja cada vez mais pobre e restrito entre pró-Chávez e contra Chávez. Tem também um estilo tradicional de música e dança chamado Joropo, que varia um pouco de acordo com a região do país que advém: centro, llano e oriental. É um ritmo com influências negras, indígenas e européias.
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Espero ter conseguido dar pelo menos uma pequena idéia sobre o que é a Venezuela. É um país complexo e conturbado, mas de várias riquezas naturais, humanas e culturais. A política, aparentemente guiada com um fervor imprudente, parece conduzir o país a um grande dilema. Mas o fato é que a chavistas ou não chavistas, urge a todos a necessidade de mudança e encontro de novos caminhos para que no futuro não nos façamos sempre a mesma pergunta: como pode um país ser tão rico com um povo tão pobre? Muitos sabem o porque disto, mas não os interessa fazer com que a maioria saiba. É a partir da plena consciência da resposta desta pergunta e um maior sentimento de unidade, vontade e participação que poderemos iniciar uma mudança consciente na América Latina. Obrigado a todos que acompanharam os boletins até aqui, aos que me escreviam e me incentivavam enquanto eu viajava. Isso porque não é fácil viajar de maneira independente em países como estes, mas a graça está justamente na superação destas dificuldades, que no fim nos dão muito mais coisas pra contar. Espero ter compartilhado ao máximo a visão de cada país.
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Andes venezuelanos - Mérida
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"Al final de este viaje en la vida,
quedará nuestro rastro invitando a vivir,
por lo menos por eso es que estoy aquí,
Al final de este viaje en la vida,
quedará una cura de tiempo y amor,
una gasa que envuelva un viejo dolor."
(Sílvio Rodríguez)
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Até as próximas,
Márcio.-

Um comentário:

Kats disse...

Terminei esta "jornada" às 2:06, não consegui desgrudar os olhos, ainda mais por causa de las photo(graphías). Texto e fotos são duas grafias que se aproximam, se distanciam, se entrecruzam em alguns momentos, para, no seguinte, se distanciarem. Ao contrário do que dizem meu caro viajante, é muito interessante ver um país a partir do olhar do outro, os estudiosos do olhar têm razão: as fotos constituem-se antes de mais nada o registro da memória de um olhar, de um sujeito, de um grupo social, de uma espaço-temporalidade. Textos também são assim, contudo, cada graphia tem sua especificidade não se sobrepõem, antes, se justapõem, qual mosaico ou quebra-cabeças que jamais podem ser completados, sempre (ainda bem!) faltam encaixes, isso porque quem o faz é o imaginário de cada sujeito que lê as graphias. Os entrelaçamentos dependem da riqueza da alma! Infinitas são as possibilidades para o preenchimento desse mosaico... Grata por esta viagem por meio dos seus relatos e fotos. Tenha certeza de que emprestou seu "olhar" para muitas pessoas territorializadas que, não raro, não têm o direito e nem possibilidades materiais de ir e vir. Eis a função social, talvez a missão mais sagrada de um viajante. Espero que tenha muitas viagens pela frente. Saudações geográficas.